Dificuldade em sair de um investimento ruim

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Vamos falar de porque as pessoas tem tanta dificuldade em sair de um investimento ruim.

Um grupo de amigos combinaram de ir passar o final de semana na praia, reservaram uma casa, alugaram um carro, encheram o tanque do carro, cancelaram os compromissos e partiram para um provável e relaxante final de semana.

Cheios de expectativa, embarcaram na viagem, aceitando um engarrafamento de várias horas. Quando chegaram no destino, um passeio que era para ser divertido e relaxando, iria se tornar desagradável.

O calor que eles estavam esperando já não existia mais, alias estava chovendo e eles haviam enfrentado uma enchente durante o trajeto. Essa mesma enchente imundou a casa que ficava próxima a um córrego sujo, além de trazer muito lixo, deixou a casa imunda.

A previsão é que a chuva forte irá durar todo o final de semana. Poderia ter sido tudo tão lindo, mas agora todo mundo quer secretamente voltar para casa.

Tomara que não aconteça isso com meu passeio desse final de mês, escrever esse artigo me deu até saudade de uma praia.

https://twitter.com/VDividendos/status/1294983247689121793

Quando alguns do grupo sugerem interromper o passeio e voltar para casa, os outros reagem com incompreensão. Você já investiu muito tempo e dinheiro! O aluguel da casa de praia, do carro e o custo da viagem, tudo isso seria perdido.

O que você acha que eles devem fazer ?

  • Você ficaria?
  • Ou você prefere jogar o dinheiro fora, dirigir para casa e aceitar que ficar em casa pode ser mais vantajoso?

A maioria das pessoas nunca terminariam as férias prematuras, não importa o quão ruim seja a acomodação ou o tempo. O seu desconforto com a perda seria muito grande.

Irracionalidade

Pois bem, esse mesmo comportamento de manter o prejuízo, no mundo das finanças é considerado um comportamento irracional.

Para o nós que somos das finanças a questão é clara:

Não importa o que você decida, o dinheiro que você já investiu 😭 acabou.

Custo irrecuperável

Esse problema tem o nome de “custo irrecuperável” no mundo da economia.

Os economistas aconselham considerar apenas os custos e benefícios que podem ser esperados no futuro ao tomar uma decisão.

Mesmo assim, todo mundo conhece aquele parente que termina de gastar o resto do salário com futilidade, só porque a maior parte do seu dinheiro já foi para o ralo.

Ou aquela galera que vai ao cinema, começa a assistir o filme, percebe que ele está horrível e mesmo sabendo que pode muito bem levantar e aproveitar o resto da noite, opta por continuar a tortura até o final. Afinal quem investiu na compra de um bilhete de cinema, não irá sair, porque sempre ha esperança que o filme melhore. Chega no final você estará mais aborrecido ainda por ter gastado o dinheiro e o tempo.

Eu mesmo, no passado, já fiz muito disso com seriado. Antes assistia 3 episódios, via que o seriado era ruim, ao invés de interromper e partir para outro mais interessante, continuava a assistir mesmo não gostando. Hoje não faço mais 🤨 isso.

É difícil sair de um investimento ruim

Já falei, lá em 2016, sobre os sócios torcedores e vale a pena dar uma lida nesse artigo: Não invista na bolsa de valores como um sócio torcedor

Claro, encontrar o momento certo para pular fora é incrivelmente difícil. Como você pode explicar que geralmente continuamos, mesmo quando devíamos saber há muito tempo que seria melhor ter pulado fora?

Uma resposta a essa pergunta é fornecida por um novo estudo que acaba de ser publicado na revista Science.

Neurocientistas da Universidade de Minnesota mostraram que é extremamente difícil não apenas para nós humanos, mas também para outros seres vivos, dar as costas a um decisão depois de investirem tempo e energia.

Mesmo se houver alternativas obviamente melhores. Isso explica muito do comportamento que descrevi no artigo de 2016 sobre abandonar um investimento ruim.

Para eles a questão é clara: nossa persistência é evolutiva.

Num estudo com 65 estudantes e 32 ratos (sei que é difícil distingui um do outro) foram submetidos a um teste de paciência em um laboratório.

Os roedores tiveram que aguardar para comer e os humanos tiveram que esperar um vídeo na internet carregar.

Sejam ratos ou humanos, todos os indivíduos testados se comportaram da mesma maneira: quanto mais esperavam, mais provável era que continuassem a esperar.

Permaneceram assim, mesmo quando os cientistas lhe deram formas mais eficientes de chegar lá.

Os ratos foram inicialmente informados por sinal acústico de que em breve haveria alimento em um dos quatro pontos de distribuição. Depois de terem se decidido, outro sinal mostrou-lhes se teriam que resistir por muito tempo no local escolhido. Embora os roedores pudessem ter mudado de ideia para chegar ao seu destino mais cedo, eles frequentemente permaneceram onde originalmente se posicionaram.

A maioria dos alunos se comportaram de maneira semelhante aos ratos. Quanto mais tempo eles investiram em um vídeo, menor a probabilidade de desistirem, mesmo quanto tiveram a opção de experimentar um canal mais promissor.

A coisa ainda pode piorar.

Não é só isso, pois quanto mais tempo os sujeitos do teste levavam para chegar ao seu destino, mais valiosa se tornava a “recompensa” para eles.

Quando solicitados a avaliar os vídeos em uma escala de um a cinco depois de assisti-los, os sujeitos do teste geralmente atribuíam aos filmes mais pontos pelos quais eles esperavam com mais tenacidade.

O que isso pode significar ?

Que não somos mais espertos do que os ratos?

O veredito dos cientistas é mais brando, eles atribuem nosso comportamento ao simples fato de que o futuro não pode ser previsto.

E porque não temos os meios para ter uma visão holística das consequências de nossas ações, somos simplesmente forçados a apostar em nossos próprios prognósticos futuros.

Na opinião dos autores, o fato de então nos orientarmos sistematicamente sobre o tempo e a energia (dinheiro) já investido pode ser uma espécie de autoproteção.

Eles reconhecem isso como uma tentativa de não darmos confiança em nossas ações.

Então isso significa que devemos nos render ao nosso destino agora?

De modo algum. Pelo menos se você acreditar em outro estudo de pesquisadores americanos de 2007.

É claro que perceber que você escolheu o caminho errado ou tomou uma decisão errada não é exatamente legal.

O resultado final é que nos beneficiamos física e psicologicamente ao dizer adeus a objetivos irrealistas: tornando-nos mais felizes, fisicamente mais saudáveis e nos sentimos menos estressados.

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17 COMMENTS

  1. Meus maiores arrependimentos na bolsa ocorreram porque eu hesitei em sair de investimentos ruins, mesmo sabendo que eram ruins… Posso citar como exemplos a minha compra das ações da Multiplus e o fechamento de seu capital e a minha compra de ações do IRB achando que as ações já haviam caído muito…

    • ola L

      fazer o valuation é bem complicado mesmo,

      entrar num mau investimento todos nós vamos eventualmente

      a diferença do bom para o mau investidor

      é que o primeiro reconhece onde errou, já o segundo continua achando que é dono da verdade

  2. Viver:
    Eu tenho estudado sobre bolsa e investimentos desde 2007. Acompanho seu blog a 2 anos.
    Sempre tenho me focado no estudo, conhecimento. Procuro boas empresas com bons balanços, focando no longo prazo, portanto sempre cumprindo a cartilha.
    Mas acredito que as vezes o lado psicológico pega.
    E nessa hora, desperta-se o “lado negro” de cada um, acho que no meu caso, o lado negro dos “jogos”
    Bom, depois do desdobramento, a ganancia bateu forte e comprei TESLA – TSLA.
    Claro, fiz tudo que não deve-se fazer, comprei o papel quando todos falavam dele na mídia, quando as acoes estavam num preço absurdo, alavancadas. Mas realmente a ganancia foi mais forte.
    Claro que aconteceu oque eu sabia oque ia acontecer: no dia seguinte de minha compra, queda de 20%.
    Oque faço agora?
    Alternativa A: Vendo tudo no desespero e assumo o prejuízo (não conto nada para minha mulher)
    Alternativa B: Comeco a comprar na descida para baixar o “preço medio”
    Alternativa C: Viro socio torcedor.

    Abracos

    • ola M

      o cara separar lá uma parte pequena pra essas tacadas até vai, mas espero que vc nao tenha coloca nada maior que 5% do seu patrimônio nisso

      só tomar cuidado para nao virar sócio torcedor

      mas acho que a Tesla ainda pode vir a se tornar uma das maiores empresas do mundo, agora se vai ser lucrativa e boa para o pequeno investidor aí são outros 500

      o money game está nos carros autônomos

  3. Um ótimo tema pouco tratado na blogosfera, eu particularmente não tenho dificuldades em sair de um investimento ruim mas tbm tenho uma nova estratégia de escolher bem meus ativos que nunca pretendo vender.

    Abraço

    • ola AF

      essa questão de ter dificuldade de sair de um investimento ruim pode ser maior que a dificuldade que o pessoal tem em escolher bons ativos

      e no fim, ficar muito tempo num investimento ruim pode reduzir muito os retornos de uma carteira

  4. Show viver,
    Podemos dizer que seria como um plano de negocio, que não foi bem elaborado e seguido.
    Temos que saber a hora certa de deixar e ir para o próximo, ter o plano b.
    Abraços
    Eu Candido

    • nao se tornar um sócio torcedor é importante, claro que e o q o EL comentou, ninguém consegue prever uma pandemia como essa, isso é impossível, mas tem muitos sinais nos ativos que a coisa nao vai bem antes disso tudo, então ai é melhor assumir a perda e partir pra outra

  5. Olá VDD. Td bom ? Após um longo tempo, volto a comentar no seu site. Como sempre vc escrevendo artigos muito úteis e esclarecedores. Parabéns !!!
    A respeito do artigo (acredito que minha dúvida tenha a ver), aproveito para saber sua opinião. Devido à situação atípica que tivemos esse ano por causa da pandemia, é sabido que alguns REITS foram mais afetados do que outros. Um exemplo é o EPR Properites. Fazendo um link com seu artigo e o EPR, vc acha que ele se tornou um mau investimento, já que ele majoritariamente gerencia cinemas,etc e o “novo normal” faria com que esse REIT tivesse um risco até de falir ? Seria esse um caso de abandonar esse investimento ? Qual sua opinião ?
    Um grande abraço !

    P.S.: Tb sinto muito falta de fazer viagens srsrrsrsrs.

    • ola EL

      acho que de todos que vão sofrer por conta dessa pandemia ele deve ser o mais afetado, no entanto nao é só de cinema o EPR vive né, tem campos de golfe, estações de ski e até escolas, vc realmente acha que isso tudo vai acabar ?

      bom acho q nem cinema vai acabar e quando voltar as grandes produções vai voltar com forca, pega os grandes redes de filmes nao estão lançando nada de grande no streaming os caras sabem que o money está nas bilheterias

      ai cada um tem que tirar suas conclusões e montar sua estratégia a minha ja falei aqui nesse post

      oq era bom e ficou ruim pela pandemia, vai voltar a voltar bom novamente

  6. Boa. Interessante o post. Vai de encontro ao conteúdo de um livro que estou lendo e recomendo a leitura: Misbehaving – A construção da economia comportamental (Richard H. Thaler). Algo que ele diz no livro… nós agimos mais com emoção que razão e sentimos muito mais uma perda do que um ganho. Vale a leitura!
    Valeu.

    Juliano

  7. Excelente como sempre VDD… Sabe que finalizei há algumas semanas o capitulo 22 do Investido em Acoes ao Longo Prazo do Jeremy Seiguel.. Esse capitulo é um storytelling fictício para justamente abordar questões de investidores e seus componente emocional e psicológico e aborda o assunto desse post também… Eu diria que passar pela experiencia daquele capitulo é quase obrigatória. É a base de conhecimentos como o que voce acabou de passar. Parabéns mais uma vez.

    • nosso maior inimigo na bolsa somos nós.

      lidar com esse psicológico é bem complexo, mas uma vez q vc consegue o controle as coisas fluem

      boa literatura ajuda nesse caminho

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